A inovação aberta é um formato de inovação que tem ganhado cada vez mais espaço dentro do setor público. Por meio dela, as instituições compartilham seus desafios e geram incentivos para que atores externos possam contribuir com uma nova visão e outras expertises para solucioná-los. Os desafios delimitam o escopo e os resultados esperados, ao mesmo tempo em que possibilitam que diferentes tipos de soluções possam resolvê-los. Com isso, espera-se que apareçam soluções inovadoras que a própria instituição não pensaria, ou que não teria capacidade para desenvolver.
A partir de experiências construindo e conduzindo programas de inovação aberta e aprendizados adquiridos no curso Prêmios para inovação oferecido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o Nesta Challenges, apresentamos 10 pontos para entender melhor o que é e como funciona a inovação aberta.
1. Inverte a lógica das compras públicas
Normalmente, quando o setor público precisa adquirir uma nova ferramenta ou serviço, é preciso fazer uma licitação que define em detalhes o que será comprado. Isso é ótimo quando o objeto da compra é algo que já existe, como por exemplo uma nova impressora ou um serviço de limpeza. Contudo, quando buscamos soluções que ainda não foram criadas, ou seja, soluções inovadoras, como fazemos essa especificação?
Nesse momento a inovação aberta é uma grande aliada. Com ela, as instituições não definem o produto final, mas sim compartilham com o ecossistema de inovação os desafios que enfrentam e suas métricas de sucesso. Desse modo, em vez de receberem ofertas de diferentes fornecedores do mesmo produto, recebem propostas de diferentes maneiras para que o desafio possa ser solucionado.
2. Um desafio bem definido já é metade do caminho
Essa inversão da lógica de compras públicas também fomenta um foco maior na definição dos desafios. Isso é importante para o processo de inovação aberta, mas também é uma habilidade que pode trazer benefícios para como as instituições públicas pensam seus processos e serviços. É comum encontrarmos iniciativas que, ao serem implementadas, acabam não resolvendo o problema que se pretendia. Isso se dá, muitas vezes, por não haver uma preocupação e uma dedicação de tempo e esforços para entender o contexto e as pessoas envolvidas nos problemas a serem solucionados. Um foco no desafio faz com que esses quesitos sejam considerados e aumenta as chances de sucesso e aderência da nova solução.
3. Abre a instituição para novos conhecimentos
Ao compartilhar com atores externos às instituições os desafios, abre-se espaço para que conhecimentos não tradicionais do setor público possam apoiar a solução dos seus problemas.
Além de isso trazer um olhar fresco e uma nova perspectiva para problemas persistentes, também possibilita que a inteligência coletiva seja usada para avançar na resolução dos problemas. Une-se, assim, os conhecimentos existentes na instituição sobre o problema e o que já foi feito para tentar solucioná-lo, e os atores externos que possuem outras vivências e outros conhecimentos técnicos.
4. Pode ser um grande instrumento para alinhamento interno
Ao mesmo tempo, a inovação aberta também pode gerar um maior alinhamento e engajamento entre órgãos. Os desafios definidos devem estar alinhados com as visões estratégicas da instituição. Para isso, ao definir os desafios, é importante que haja envolvimentos tanto das pessoas que vivem o problema, dos responsáveis pela implementação das futuras soluções e dos tomadores de decisão.
Ao trazer essas pessoas para conversar, gera-se um maior alinhamento de visão e de objetivos institucionais. Além do sentimento de que todos são "pais" da solução. Fator que em muitos casos impacta diretamente se uma solução será bem sucedida ou não. Independente do grau de inovação e impacto de uma solução, se ela não tiver apoio institucional para ser implementada, dificilmente sairá do papel.
5. O seu impacto vai além da solução do problema específico
Ao desenhar um programa de inovação, o principal objetivo é encontrar soluções para desafios latentes da instituição. Contudo, seu impacto pode ir além do problema inicial. De acordo com a instituição britânica de fomento à inovação Nesta, os programas também têm potencial de desencadear mudanças sistêmicas. Eles podem dar destaque sobre temas com pouca atenção; gerar conscientização da população sobre o mesmo; identificar boas práticas; informar políticas públicas; entre outros.
6. Existem diferentes modelos
De acordo com os objetivos, o tempo e o investimento disponível, os modelos de inovação aberta podem variar muito. Por exemplo, os programas podem ter como objetivo incentivar grandes avanços em tecnologia; ampliar o alcance e impacto de soluções já existentes; apoiar o desenvolvimento de capacidades e entrada no mercado de startups; integrar comunidades locais e inovadores; dar destaque para um problema negligenciado; ou estimular inovações que informem mudanças em políticas públicas ou regulamentações.
7. O desenho do programa também deve ser prototipado
Durante o processo de inovação, muito se fala da criação de protótipos, que nada mais são do que um instrumento para testar as soluções em desenvolvimento. A partir deles, é possível experimentar de forma rápida e barata o potencial da solução e refiná-la até chegar a uma versão satisfatória para ser implementada.
Porém, essa ferramenta é pouco usada quando falamos do desenho dos programas. Como mencionado, existem vários formatos possíveis para realizar um processo de inovação aberta, assim, testar diferentes formas antes de lançar o programa é essencial.
Então, antes da implementação, vale a pena consultar especialistas por meio de entrevistas e workshops para entender se o desafio está claro e pode ser respondido por diversas soluções; se os incentivos irão realmente motivar possíveis participantes; os critérios de sucesso estão claros, entre outros.
8. A inovação aberta não é a solução para todos os problemas
Todo novo processo que ganha atenção corre o risco de ofuscar a análise crítica com o entusiasmo. E com a inovação aberta não é diferente. Por isso é preciso avaliar se ela é mesmo o melhor caminho para resolver um determinado desafio.
Sim, a inovação aberta é uma ferramenta poderosíssima para resolver desafios públicos que estão presentes há anos e não conseguem ser solucionados. Mas, nem todo desafio é um desafio de inovação aberta.
De acordo com o Nesta, antes de se iniciar o programa, deve-se se questionar se: esse desafio tem um objetivo claro? Introduzir novos atores para se deparar com o problema pode beneficiar o avanço do desenvolvimento de soluções? Os incentivos oferecidos irão motivar a participação desses novos inovadores? O prêmio irá acelerar o progresso (ao invés de financiar soluções já existentes)? A solução é sustentável? Ou seja, existem pessoas que irão se beneficiar dela e um mercado para ela ser escalada?
Se a resposta para essas perguntas for sim, então talvez a inovação aberta seja um bom caminho para resolver o desafio.
9. Nem todo incentivo precisa ser financeiro
Ao construir um programa de inovação aberta, costuma-se pensar no retorno financeiro que os participantes terão. Sem dúvidas esse é um fator que irá estimular as pessoas a participarem do programa e desenvolver soluções, contudo, tão importante quanto a remuneração são os apoios e incentivos não financeiros.
Esses incentivos buscam remover ou diminuir barreiras que as equipes possam ter para entregar uma solução. Por exemplo, os programas podem ajudar os participantes a desenvolverem novas habilidades, facilitar o acesso ao mercado, conectar com atores que possam ajudar no desenvolvimento do negócio, entre outros.
10. A comunicação é essencial
A comunicação é um elemento que deve estar presente em todas as etapas do programa. Ela ajuda a alcançar um público de participantes diversos e qualificados e aumentar o impacto do programa e das soluções a serem desenvolvidas.
Definir quando, como e por onde comunicar sobre o programa é essencial para o seu sucesso. Uma mensagem clara, nas mídias adequadas e nos momentos chaves do programa ajudam no sucesso da iniciativa. Um dos grandes desafios dos programas de inovação aberta é atrair bons participantes. Para isso, os desafios e objetivos têm que ser comunicados de uma forma que eles entendam e consigam identificar se possuem as habilidades necessárias para responder ao desafio e que tais informações cheguem até os possíveis interessados. Precisa estar também claro para os participantes em potencial os momentos em que eles podem se inscrever o que precisam para tal.
Uma boa comunicação também possibilita que a população entenda o desafio e adquira conhecimento sobre a questão. Além de auxiliar os participantes a divulgarem seus produtos e serviços.
Tratando-se também de um programa organizado por uma instituição ou órgão público, é sempre importante levar em consideração questões de transparência. Uma comunicação efetiva ajuda as pessoas a saberem o andamento do programa e quais resultados estão sendo alcançados.
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